segunda-feira, 4 de julho de 2011


Às vezes eu penso que sou um prato cheio para terapeutas.
Sabe quando a gente tem a sensação de que pensa em coisas inimagináveis por outros seres deste mundo?
Pois é... eu tenho essa impressão o tempo todo a meu respeito.
Adoro entrar em filosofias malucas sobre absolutamente tudo. Um dos meus hobbies prediletos é observar as pessoas que andam na rua. Se fico parada muito tempo sozinha em algum lugar - dentro do carro, por exemplo - tenho que me concentrar pra não ficar com cara de “desconectada do mundo”. Me perco por horas a fio pensando e pensando. Muitas vezes sem chegar a nenhuma conclusão muito clara, mas satisfeita pelo simples fato de ter entrado em um monólogo tão agradável comigo mesma.
Aliás, sábado foi um dia desses.
Era a hora do programa da Xuxa na emissora mais tendenciosa do Brasil. Ok. Pausa para comentários do tipo “ela vê a Xuxa???”.
Não, eu não vejo a Xuxa.
Tá... às vezes, quando não tem nada pra fazer e blá blá blá pode ser que eu acabe “olhando” assim, como quem não quer nada.
Mas na década de 80/90 eu via.
Todo o santo dia.
Não apenas via, eu enlouquecia com o “Xou da Xuxa” com “x”.
Via sim. E me esbaldava.
Amava quando minha então musa inspiradora saia da nave.

Eu cantava todas as músicas de cor.
E... não, eu não queria ser uma Paquita. Eu queria ser A Xuxa.
Gentem, eu sempre sonhei alto. Tudo bem, não deu certo (ainda). Mas sigo me imaginado em palcos absurdamente glamurosos com uma multidão gritando meu nome (olha aí o prato abarrotado para os terapeutas).
O fato é que o programa era uma homenagem pelos 25 anos de carreira da loira. Muitos cantores, até Caetano Veloso, estavam fazendo parte da festa (que parecia tudo menos festa, tamanha era a tristeza da “Rainha”). Todas aquelas músicas que marcaram a minha infância foram cantadas. Para os agora intelectuais de plantão, eu diria “todos aqueles atentados à música foram reproduzidos”. Mas não esqueçam que todos nós repetíamos entusiasmados aquilo tudo. Na época, nenhum de nós ainda tinha se tornado um intelectual chatinho em sua roupinha arrumadinha acreditando ser o guardião da suprema sabedoria. Éramos todos crianças felizes e saltitantes ao som de Ilariê. E eu sei que todos éramos bem mais felizes assim.
Bom, o programa foi rolando juntamente com todo o estoque de lágrimas que meu corpo dispunha. Fui literalmente visitada, ou melhor, invadida pela minha infância. É engraçado como as lembranças da meninice ficam tão claramente registradas, não?
Que nostalgia!! E a saudade de tudo tomou conta de mim. O que por sinal não é raro de acontecer.
Fui redimensionada para as manhãs ensolaradas, o cheirinho do almoço, a facilidade da vida, e com aquelas letras infantis, fui relembrando a forma como eu via o mundo e a vida.
Eu tinha tantos planos, que se eu quisesse colocar em prática metade deles, eu precisaria viver, no mínimo, uns 300 anos.
Eu acreditava que quando eu crescesse e virasse “adulta” (oh, que palavra de peso!), seria uma outra pessoa, com uma memória zerada, e eu morria de medo de virar uma típica adulta chata e séria. Hoje percebo que foi uma preocupação em vão.
Simplesmente hoje, constato que sou a mesma pessoa da época do programa da Xuxa. O que quero dizer, é que minha essência é idêntica. Claro, amadureci, evoluí como pessoa, mas sempre com o mesmo perfil, os mesmos valores e, muitas vezes, os mesmos gostos. Continuo, inclusive, detestando adultos chatos, que não conhecem o sabor de uma boa gargalhada. E, até arrisco dizer, que consegui não me tornar um deles! Infelizmente, em função da falta de tempo já mencionada, tive e sei que terei de abrir mão de alguns sonhos (ser uma bailarina clássica de renome é um deles). Mas ainda há tempo para muita coisa! Há tempo para aproveitar cada dia vagarosamente, como fazem as crianças, cujos dias parecem representar para elas, o que uma semana inteira representa para nós. E nesse ponto, ninguém deveria crescer.
Estou parecendo Michael Jackson (ídolo!) em busca da Terra do Nunca. Mas não posso negar que foi exatamente o que senti enquanto eu assistia aquele programa, ao som de Doce Mel e Abecedário da Xuxa.
Aqueles que viveram a infância de 80 e 90 e que têm um mínimo de sensibilidade sabem do que estou falando.
É de Xuxa, Chaves, Chapolin, Caverna do Dragão, O Fantástico Mundo de Bobby e Cavalo de Fogo que falarei, quando for contar a meus netos como era a minha época. Aliás, nem tão longe preciso ir. É sobre eles que falarei aos pequenos de hoje, como meu afilhado e o filho de minha amiga, quando eles, entretidos em tanta tecnologia, derem risada por terem existido programas tão ingênuos.
É... e seguirei chorando quantas vezes meu corpo disser que é necessário, até conseguir extravasar pelo menos metade da saudade que sinto daquele tempo.
E sobre o que eu disse no início... Pensando bem, acho que todos nós somos pratos recheados para terapeutas. Aliás, acho vital que seja assim. Nada mais saudável do que se perder em emaranhados de pensamentos que nos propiciam sensações das mais diversas. Isso é da essência das pessoas. Afinal de contas, somos humanos. Simples assim!