quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

UM PAÍS




Aquele país que aprendi quando era menina, o da Ordem e do Progresso.
O do hino nacional emocionante.
Do presidente que sofreu impeachment.
Da música do Lula lá.
Do senhor do lenço vermelho.
Do patriotismo que tem data para surgir (apenas de quatro em quatro anos).
O país do senhor simpático que caiu do helicóptero quando eu tinha meus 6 ou 7 anos e me fez perder noites de sono rezando para que ele aparecesse vivo.
Foi também o país que me fez chegar ao colégio em 1992 e ouvir minha coleguinha dizendo que o presidente foi a casa dela e levou todo o dinheiro que eles tinham nas gavetas.
Cresci esperando que tudo fosse melhorar. Entretanto, de nada adiantou.
Agora, já não mais criança, me deparo com meu país nas mãos do moço da música do Lula lá, aquele que “inocentemente” desconhece fatos.
Aqui certos senhores tem a estranha mania de carregar dinheiro nas cuecas.
País das CPIs. Do dinheiro desviado.
Do político que é assassinado misteriosamente para que ninguém descubra o que não deve.
Do milionário e do mendigo.
Aquele do povo que pensa que falar inglês é sinônimo de superioridade.
No meu país, os cidadãos elegem para fazer nossas leis, uma criatura que confessa não saber legislar.
Em minha pátria, o povo grita porque a justiça não funciona. Mas eles não conseguem entender que “se a justiça não funciona” é porque as leis são falhas. Quem cria as leis, são os legisladores, que são eleitos pelos cidadãos brasileiros. A conclusão, portanto, é óbvia. Parem todos de reclamar sentados em suas confortáveis poltronas e aprendam, de uma vez por todas, a votar.
Conheci um país hipócrita, que abarrota os presídios com os pobres e deixa os magnatas assassinos soltos!
O país que coloca novamente no poder, agora como senador, o moço que “foi a casa da minha coleguinha pegar o dinheiro dos pais dela” em 1992.
É o país da vulgaridade. Que aplaude de pé mulheres-fruta e que acha um “saco” espetáculos de ballet.
País de apresentadores de programas de televisão desprovidos de informação que falam com propriedade de justiça e fazem o povo acreditar que dizem algo bonito, pelo simples fato de berrarem, gritarem, se exaltarem, quando na realidade estão proferindo verdadeiros absurdos.
Em minha pátria crianças rastejam por um pedaço de pão.
Mocinhos bonitinhos usam drogas na pracinha bem ao lado do bebê que brinca no balanço.
É o país do povo que se revolta quando escuta o noticiário, mas que ao terminar o jornal, vai assistir à novela e esquece a indignação.
Meu país se orgulha quando estrangeiros viajam para cá a fim de conhecer a terra das mulheres fáceis, da Amazônia (que não é nossa) e do Carnaval!
Ah! Pois é... País do Carnaval! Contraditório. O mesmo país que tem gente morrendo de inanição, esbanja em carros alegóricos e fantasias monstruosas que tapam ombros e panturrilhas (apenas).
Esse é o meu país.
Entretanto, existe o outro lado dessa minha terra. E é por esse ângulo que prefiro vê-la.
É o país da alegria.
Do calor humano.
Do povo corajoso, que luta a vida inteira para sobreviver.
Gente humilde que acredita piamente que as coisas vão melhorar. Que a próxima eleição elegerá um político honesto.
Meu povo acorda cedinho para trabalhar e não reclama, ao contrário, sorri. No meu país os moços encontram alegria em tudo, até no trajeto para o emprego, quando em suas bicicletas se equilibram ao virar para trás quando passa uma “rapariga”.
Dão a vida pelo futebol, acompanham todos os capítulos da novela das 21h, com isto sonham com uma realidade distante da que vivem. As moças veem-se heroínas e assim flutuam em imaginações românticas. Enquanto que os rapazes, no jogo de futebol com os amigos, por um momento creem serem os melhores do mundo. É com esta fantasia que conseguem levar a vida, mesmo cheios de problemas, mesmo sabendo que no outro dia tudo recomeça.
Orgulho-me dessa gente honesta que embora toda a maré de canalhice existente não se deixa influenciar.
Meu povo, minha gente!
Esses que não usam a falta de dinheiro como justificativa para se corromper.
Que estudam num país onde a educação é precária. Freqüentam escolas públicas e conseguem chegar à faculdade, mesmo abalados, muitas vezes, física e psicologicamente, mas sem, jamais, desistir.
Admiro meus compatriotas, que independentemente da classe social a que pertençam se mantêm fiéis aos seus valores em qualquer circunstância.
Me orgulho desse meu povo e não do outro!
Que nós não fiquemos inertes à podridão que nos ronda.
Que as pessoas entendam de uma vez por todas que político não é uma raça. Os políticos são o povo, nascem como todos nós, na forma de ser humano (embora muitos, depois de grandinhos, não mais façam jus ao termo “ser humano”). As pessoas têm uma tendência a imaginar que político nasce político, como o pit bull nasce pit bull, ou o poodle nasce poodle. Não! Eles vêm do mesmo lugar que todos nós. Isso significa que se muitos deles são corruptos é porque uma grande parcela do povo também é. E isso precisa terminar.
As pessoas precisam parar de querer despejar a culpa em algo, é a famosa transferência de responsabilidade. Se eles não prestam, azar!! Eu presto, meu irmão presta! Que se unam todos os que têm caráter! Coloquemos no poder apenas quem, de fato, merece. E chega de aceitarmos, inertes, a toda essa falta de vergonha!
Que essa minoria maravilhosa, que eu sei que existe, se una rumo ao clichê mais conhecido do nosso país: “Rumo a um país melhor”!


2 comentários:

  1. Belo relato da realidade... pena q as pessoas não tomam nenhuma atitude... Com um Brasil "apático" continuaremos assim...
    ACORDA BRASIL!!!

    Parabéns pelo texto!!! Perfeito!!
    Bjaoo!!

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  2. que perfeito, Tati... parabéns pelas palavras muito bem colocadas!! povo pouco instruído toma decisões pouco sábias. taí um grande problema brasileiro: instrução.
    beijo amada

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